plural

PLURAL: duas opiniões diferentes no mesmo espaço

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Na Venezuela
Neila Baldi 
Professora universitária


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Desde que começou a pandemia e isolamento social, todas minhas compras são online. Há nove semanas, na minha lista de compras havia arroz integral. Veio uma marca desconhecida e mais cara. Fiquei pensando: o supermercado me sacaneou. Naquela mesma compra, faltou o azeite de oliva pedido. Na compra seguinte, indiquei marcas específicas de arroz integral e a atendente me ligou: estava em falta. A opção, a marca do mês anterior ou outras também desconhecidas. O preço, nas alturas. O problema não era a marca...

Faço compras no supermercado a cada três semanas - de forma espaçada, pois cada contato é um risco, mesmo que seja com o entregador. Nesta semana, a atendente me ligou: só tinha café extra forte da marca solicitada ou em embalagem de 250 gramas. No caso do azeite também: a marca pedida só tinha em embalagem menor. Fiquei pensando: será que o consumo aumentou tanto que as pessoas têm comprado as embalagens maiores e, por isso, estão em falta?

Minha hipótese foi por terra quando ela me informou que a bolacha maria da marca pedida também estava em falta: havia apenas sabor chocolate. Ofereceu outra marca, cuja embalagem tinha dois ou quatro pacotes - a que peço, tem três.

DADOS MASCARADOS

Esta semana vi nas redes sociais a imagem de um supermercado com cartazes limitando compras de açúcar. Lembrei dos anos 1980, dos produtos em falta nos supermercados. Vivíamos uma crise econômica e inflação galopante. Com isso, o governo Sarney lançou o Plano Cruzado e tabelou o preço dos alimentos, levando-os à escassez. Faltava comida na mesa dos(as) brasileiros(as) e muitos(as) passavam fome.

Se os alimentos estão em falta - como nos anos 1980 - ou com compras limitadas, a fome também volta: a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou recentemente que 5,4 milhões de brasileiros(as) devem voltar ao mapa da fome em 2020.

O que vivencio, a cada três semanas no supermercado, e a imagem que circulou nas redes sociais, com limitação de compras me trouxeram outras memórias. Lembrei de quando o Grêmio foi jogar na Venezuela. A comitiva levou itens básicos para serem usados lá, mas também para serem doados.

Na Venezuela, o alimento é limitado. Na Venezuela as pessoas estão passando fome. Na Venezuela, as liberdades estão cerceadas. E porque a Venezuela está assim, os Estados Unidos querem intervir... Com a ajuda brasileira.

Na Venezuela, os militares estão no centro do poder. Na Venezuela os dados oficiais são mascarados ou desmoralizados. Na Venezuela as instituições democráticas sofrem ataques do governo central. Na Venezuela a imprensa livre é agredida cotidianamente. É só na Venezuela?

Pessoas se conectam a pessoas
Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Normalmente, costumamos reclamar de nosso representante de turma, do nosso amigo, do nosso síndico, do nosso chefe e, por fim, do nosso companheiro, esquecemos que os escolhemos detalhadamente. Quando fizemos a escolha destas pessoas, elas não eram diferentes do momento em que proferimos a reclamação, portanto o motivo que nos atraiu, que nos conectou, permanece o mesmo.

Esta atitude temos em relação aos nossos representantes políticos, porém, esquecemos que a nossa escolha outorga poderes que não podem ser revogados, e que perduram por um período fixo de 04 ou 08 anos, independente da minha vontade, diferente dos demais escolhidos por mim, para representar-me na turma ou no prédio, por exemplo.

Como seres humanos temos a tendência de projetar no outro, nossos anseios, partindo da identidade, por exemplo, votar numa mulher pelo simples fato de ela ser mulher. Não há nada errado em apoiarmos uma mulher, entretanto, esta escolha deve ser embasada nas qualificações necessárias para o cargo que irá ocupar, graças ao nosso voto.

Em três meses, escolheremos os novos edis, os quais ficarão na história, pois irão legislar no período pós pandemia, assim como o prefeito. Quem poderia imaginar que, num país democrático, seríamos impedidos de sair às ruas, de frequentar um shopping num domingo à tarde, ou de almoçar no CTG no dia 20 de setembro?

ESCOLHA CONSCIENTE

Essas novidades também alcançarão à Câmara de Vereadores, que irá regulamentar o município no período pós pandemia, que, com certeza, jamais foi vivenciado por nenhum deles. Por maior que seja a nossa conexão com o candidato, devemos ter em mente que o voto é uma carta assinada em branco, e diferentemente do nosso companheiro, não temos o acesso diário para influenciar nas suas decisões, por maior que seja a conexão.

Já ouvi de várias pessoas a seguinte frase: não acredito mais em político, vou votar em branco, esquecem que sempre haverá alguém que irá ocupar as cadeiras da Câmara dos Vereadores e o cargo de prefeito, logo é importante que eu participe desta escolha, já que com o meu voto ou sem ele, pessoas serão eleitas e tomarão decisões que vão incidir sobre a minha vida e a minha cidade.

Existe, ainda, os eleitores que sofrem do Complexo da Cinderela, acreditando que o eleito irá tratar e cuidar dos seus interesses, quando o eleito não perde a sua individualidade, personalidade e caráter, quando assume o cargo de vereador ou de prefeito, uma vez que nestas posições ele não é vereador ou prefeito, mas está vereador ou prefeito, diferente-mente do seu caráter e personalidade que o acompanham em todos os cargos que ocupa.

Portanto, é natural que tenhamos a conexão com os nossos candidatos, porém, a escolha tem que ser consciente, e não simplesmente pela identificação, já que eles exercem funções primordiais como legislar, representar a nossa sociedade em sua pluralidade de interesses, bem como fiscalizar a atuação do Executivo.


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